A Ferrovia e a evolução da movimentação de mercadoria no Porto de Setúbal
Os registos históricos de movimentação de mercadorias no Porto de Setúbal, com alguma expressão quantitativa, remontam ao ano de 1941.
Neste ano de 1941, de acordo com os registos disponíveis na APSS movimentaram-se um total de 204 123 ton. destas, carregaram-se 103 087 ton. e descarregaram-se 101 036 ton.
O valor histórico de 1000 000 ton. movimentadas, só foi ultrapassado no ano de 1956 com um valor total de mercadoria movimentada de 1 006 965 ton. valor este só consolidado a partir do ano de 1964, data a partir da qual nunca mais se desceu abaixo do 1 000 000 ton.
A duplicação deste valor e sua consolidação só verificou no ano de 1985 com uma quantidade total movimentada de 2 192 955 ton. valor que se manteve estável até 1988 ano que terminou com 1 990 732 ton.
A década seguinte de 1988 a 1998, poderemos considera-la a década de ouro no que ao crescimento do Porto de Setúbal diz respeito, ou seja passou-se de 1 990 732 ton. em 1988 para 6 497 505 ton. movimentadas no ano de 1998, ou seja, numa década o porto cresceu 226%.
A década seguinte 1999 a 2009, é uma década onde, se por um lado se assistiu a uma estagnação no crescimento da mercadoria movimentada no Porto de Setúbal, por outro lado, é um período onde se promoveram alterações estruturais no porto nomeadamente: terminou-se a construção do terminal hoje denominado TMS-Zona 2 e remodelou-se o pavimento do TMS-Zona 1. Com estas duas estruturas operacionais, no início da década de 2000 lançaram-se as bases para o processo da sua concessão, o qual veio a culminar em 2004 com as assinaturas dos contratos de concessão ou seja, a Zona 1 foi concessionada à TERSADO e a Zona 2 à SADOPORT.
Com as concessões, foi possível implementar novas formas de gestão do trabalho portuário e dos recursos alocados às concessões. Assim, assiste-se logo no final de 2004 princípio de 2005 (note-se que as concessões entraram em vigor em 22 de novembro de 2014) à renovação de todo o equipamento de movimentação horizontal, vulgo empilhadores etc., alocando os concessionários às concessões equipamentos novos de maior capacidade e produtividade. Algum tempo mais tarde, (2008 e 2009) voltou a fazer-se uma nova atualização de equipamentos, com a sua adaptação às realidades das mercadorias movimentadas com a introdução na movimentação de carga geral de equipamentos com acessórios projetados nos próprios terminais, o que permitiu, efetuar a carga e descarga dos meios de transporte da mercadoria de forma mais eficiente, melhorando substancialmente os ritmos.
Fonte: APSS
Os últimos 10 anos do Porto de Setúbal e o contributo da Ferrovia
O esforço continuado dos concessionário na inovação e adaptação às novas realidades que o mercado lhes coloca, permitiu, ser possível, a dinamização do transporte ferroviário de mercadorias de e para os terminais do Porto de Setúbal (Setúbal Mar).
Durante muitos anos e apesar de os Terminais Portuários do Porto de Setúbal, nomeadamente a Tersado e Sadoport, disporem de linhas Ferroviárias no seu interior, as quantidades de mercadorias movimentadas de e para estes terminais pelo modo Ferroviário foi praticamente inexistente.
Pela análise da informação disponível relativamente ao transporte de mercadorias por via ferroviária de e para ao porto de Setúbal (Setúbal Mar), verifica-se que, de 2004 a 2009 o volume de mercadoria transportada se mantém praticamente constante e próximo das 550 000 ton./ano, sendo este volume praticamente da responsabilidade da Somincor e da Autoeuropa. A partir de 2009, inicia-se uma dinamização deste modo de transporte de mercadorias entre outros para os terminais Tersado e Sadoport, tendo no período de 2009 a 2014, a quantidades de mercadorias transportadas de e para Setúbal Mar, por ferrovia quase triplicado, passou de 594 255 ton. em 2009, para 1 630 000 ton. em 2014. Hoje, são grandes utilizadores da ferrovia no poto de Setúbal empresas como a Somincor e Almina, Cimpor, Siderurgia Nacional, Lusosider ALB e Transitex.
Fonte: APSS e CP Carga
Para este período, pelo cruzamento da informação entre o crescimento do Porto de Setúbal e o crescimento das mercadorias transportadas por ferrovia de e para o Porto de Setúbal (Setúbal Mar), constata-se que, praticamente 50 % do crescimento das mercadorias movimentadas no Porto de Setúbal entre 2009 e 2014 (2 198 897 ton.) foram transportadas por ferrovia (1 035 744 ton.). Isto, apesar de um grande cliente do Porto de Setúbal como a Auto Europa ter interrompido o transporte de veículos por ferrovia.
O aumento de mercadoria movimentada de e para o porto de Setúbal pela via ferroviária tem a sua relação direta no aumento do número de comboios que aportam ao porto. Assim, de 2013 para 2014, registou-se um crescimento impressionante 33,11% no número de comboios que aportaram Setubal. Este crescimento, teve a sua expressão direta no peso que o porto de Setúbal tem na receção e expedição de mercadorias por via ferroviária ao nível dos portos nacionais onde, reforçou a sua posição no segundo posto, sendo o porto que mais cresceu neste segmento.
Fonte: APSS
Fonte: APSS
CHEGADOS AQUI QUE MAIS FAZER:
- Há já alguns anos que, tanto a CPS – Comunidade Portuária de Setúbal como a APSS- Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, se aperceberam que as infraestruturas ferroviárias de acesso aos Terminais do Porto de Setúbal (Setúbal Mar) se apresentavam praticamente esgotadas. Com o incremento de 33% da movimentação ferroviária verificado de 2013 (4132 comboios) para 2014 (5500 comboios) pensamos que se atingiu o limite da capacidade instalada.
Este constrangimento ao crescimento do porto pois é disso que se trata, foi objeto de várias cessões de discussão tanto no âmbito da CPS / APSS como destas entidades com a REFER e CP Carga.
Como atrás ficou demonstrado o crescimento dos últimos anos esteve intrinsecamente ligado ao bom funcionamento da ferrovia algo que agora está em causa. Assim, com o objetivo de responder às necessidades prementes de remover os atuais constrangimentos ao crescimento e bom funcionamento da ferrovia de forma eficiente e eficaz no porto de Setúbal, nas cessões de trabalho entre as várias entidades, foram identificados um conjunto de constrangimentos ao nível de linhas, áreas de manobra e estacionamento bem como eletrificação de pequenos troços, os quais poderão ser removidos com investimentos de pequena monta e que permitirão, praticamente, duplicar a capacidade do porto de receber e expedir mercadorias por ferrovia.
Para dar resposta à remoção dos constrangimentos identificados, já foi assinado um protocolo entre a APSS e Refer, para a elaboração dos estudos relacionados com a eletrificação dos troços necessários junto aos terminais Tersado, Sadoport e Somincor, melhoria das linhas de apoio e manobra e, construção de nova entrada na zona central do porto de Setúbal. Espera-se que estes estudos avancem rapidamente de modo a que seja possível a concretização destes pequenos investimentos, os quais, permitirão ao porto de Setúbal continuar com o seu dinamismo e crescimento, e assim, ampliar o seu Interland.
Como alguém disse na sessão de assinatura do protocolo:
“Os portos terão dificuldade em crescer sem ferrovia e a ferrovia terá dificuldade em sobreviver sem os portos”.
Ou seja temos que trabalhar em conjunto.
Porfírio Gomes